terça-feira, 3 de julho de 2018

sal

eu gosto de você como gosto de manga.
me atrapalho nos fios,
me afundo no amarelo.

eu gosto de você como quando corto minha pele
sem querer, com uma faca muito afiada,
a realidade inextinguível de um sangue que brota
para além do meu controle.

eu gosto de você como quem lê um poeta de outro pais
e descobre na propria lingua
o insuspeito conhecimento do que é ser o outro.

eu gosto de gostar de você,
como um gosto que inunda minha pele,
minha boca, meus olhos,
placidamente.

é o que se revela no canto do olho,
o cheiro que se suspeita na beira da fruta,
é aquilo que não se agarra,
e se o olhar furtivamente tenta mirar,
vira estátua de sal
e saudade.

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