terça-feira, 16 de janeiro de 2018

ocre

por que quando você tocou minha mão eu vi ocre?
os anos passaram e os cabelos começaram a se pentear de outras maneiras, e eu suspeito que por baixo do meu moinho de cabelo possa surgir uma mancha branca, de experiência ou tristeza. e você nunca mais tocou minha mão, e eu nunca mais tinha visto aquele lugar, aquela falésia, porém calma, verde cinza de água preta. aquela rocha quente onde podiamos pousar nossa pele pelada sem medo de queimar, e você tocou minhas costas com urucum e desenhou a própria imagem que eu agora via.
tudo que foi vermelho antes daquele momento eu havia jogado cal, e isso foi importante. todos os momentos anteriores levaram aquele momento, e acho que é isso que nas palavras cruzadas chamam de destino. aquele momento que você desenhava um sonho que tive anos depois na minha pele de anos antes. e eu senti que minha pele levava o menor choque do mundo. e milhares de bolinhas surgiram insuspeitas por dentro da derme, e os pelos quase brancos se levantaram para ver o que acontecia. nós voltamos para o sino, ingênuas, fomos dormir. e a tarde afundou num vermelho ocre que descascasva as montanhas. lembra?
os anos passaram sobre a minha pele, e sobre a sua. eu não sou mais uma menina, nem você, muito embora somos. certamente. eu vi o seu cabelo curto, você viu meu riso outro. era noite alta quando o ocre se interpôs entre nós. não fui eu, nem você. mais uma vez foi o ocre. e minha retina as vezes quando durmo lembra que há uma cor entre nós.
algo entre uma grande besteira, uma vontade-gengibre e um acontecer falésia.