domingo, 17 de junho de 2018

domingo

Domingo é um dia sem testa. Um dia sem dono - nem deus quis essa bagaça. Por isso todo mundo se sente livre e perdido e cansaço e frouxo no domingo. Dentro das coisas que cabem no cansaço. Nesse domingo 20.000.000 de vidas aconteceram simultaneamente. Para grande surpresa dos organizadores poucos esbarros ocorreram. O meu eu, que não consigo creer como não ficcional, tampoco consegue acreditar nesses 20.000.000 devires tão pertinho e tão longe. Esse devir foi calcado de encontros, e de gostos, vividos no presente ou num passado recente.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

batalhao

no meio da festa eu já procurava distrair a minha garganta que começava a se anestesiar somente do lado direito. a garganta partida ao meio em duas sensações distintas, e o nariz que também acompanhava. a verdade é que eu já cheguei na festa na querência de algo. ou de tudo que me fosse oferecido. aproveitei os amigos, o uisque,  o salmão defumado. as 3 da manha nos levamos para fora e começamos a nos aproveitar. embora eu tenha sentido amor, no seu jeito suave de suar sobre as minhas coxas. embora eu tenha sentido amor, nos beijos que você agarrava da minha boca. embora eu tenha sentido amor, nos gemidos desesperados e contínuos e plácidos. gemidos de cachoeira. sabemos que nos usamos, e nunca é fácil usar e ser usada. você se levantou com sede e na querência de partir, de seguir a sua vida que não tinha nada a ver com aquelas pessoas, com o salmão, os bonbons, o uisque, eu, o chico, as playlists que não paravam de rodar de mão de mão. sua vida era sobre gatos, cachorros, letras, a estaticidade das palavras, a dialética, o medo de errar. foi com voracidade que você ousou pertencer a outra vida. no dia seguinte acordei, acordastes. vidas que seguem caminhos distintos que não se esbarram. acordei sua imagem na minha nuca. um desejo sob a lingua. todavia a certeza da praticidade daquilo tudo. como uma garganta cindida por duas sensações opostas.